30 novembro 2006

A Arte da Dança Sagrada de Gurdjieff II

Os Movimentos Gurdjieffianos

Gurdjieff desenvolveu uma série de técnicas bastante eficazes e coerentes com a sua teoria. De entre elas algumas são mais conhecidas, tais como as técnicas para o desenvolvimento da atenção que abrange vários níveis e formas de actuação. A mais conhecida dessas técnicas é a dos Movimentos Gurdjieffianos. Essa técnica assemelha-se a uma dança onde os movimentos executados são extremamente incomuns. Além de requisitarem uma grande dose de força de vontade para serem mantidos, por causa da dificuldade em termos de equilíbrio, gera tensões voluntariamente desenvolvidas e aplicadas em áreas determinadas do corpo, tornando obrigatório ao bailarino, um estado de atenção bastante sofisticado, pois as sequências de gestos são extremamente pouco naturais. A esses Movimentos podem ser acrescentados outros exercícios internos como exercícios mentais, visualizações, ritmos respiratórios determinados, etc. o que desenvolve ainda mais a capacidade de atenção.

As Danças Sagradas são essenciais no ensino de Gurdjieff, e os seus Movimentos consistem em ideias transmitidas oralmente, exercícios físicos e trabalhos musicais. Mais que a personalidade subjectiva individual, estes Movimentos expressam leis objectivas e matemáticas governando uma possível evolução psicológica e, basicamente, também a vida como um todo. A prática dos Movimentos de Gurdjieff pode gerar uma forma de energia difícil de encontrar; possibilitam:

1. Maior presença no corpo: consciência corporal mais refinada, maior vitalidade e melhor coordenação física, percepção de sensações internas relacionadas com o movimento e correntes energéticas; chaves para uma economia da energia interna; enraizamento e centralização; equilíbrio entre os estados de atenção e relaxamento, esforço e receptividade.

2. Maior presença no coração: acção sem agitação, maior sincronicidade com os outros para além do uso da palavra, distanciamento saudável das emoções, e aparecimento de uma aspiração que nada pode apagar; equilíbrio entre as polaridades maculina- feminina.


3. Maior presença na mente: uma visão mais clara da realidade (habilidade de ver, de decidir e de actuar), melhoria na qualidade da atenção e focalização, uma observação mais consciente das dificuldades e do potencial.

Numa altura em que a humanidade está cada vez mais assoberbada por uma quantidade infinita de informação, torna-se bastante necessário retomar esse conceito e voltar os olhos para aquilo que importa verdadeiramente, no caso, o ser humano e o seu real desenvolvimento.

Além dos livros que foram publicados pelos seus alunos acerca das metodologias e teoria da sua Escola – o mais conhecido deles, e traduzido para o português é Fragmentos de Um Ensinamento Desconhecido de P. D. Ouspensky. O próprio Gurdjieff escreveu três livros: Encontro com Homens Notáveis, The life is Real only then I am e Relatos de Belzebu a seu Neto. O primeiro deles foi também remontado num filme de Peter Brook sob o mesmo nome.

A Arte da Dança Sagrada de Gurdjieff I


O conhecimento de si
Gurdjieff pretendia investigar o que chama de "fábrica humana" sob o ponto de vista da totalidade dos seus centros (o motor, o intelectual, o instintivo e o emocional), harmonizando os diversos aspectos do ser. Neste ponto, é fundamental desenvolver o "conhecimento de si", por meio da "observação de si", o que ajuda o homem a conhecer-se a si mesmo. A maior parte da filosofia de Gurdjieff era baseada em rituais orientais, tendo ele mesmo feito frequentes alusões às práticas Derviches e a nomes de personagens conhecidos dos estudiosos do pensamento Sufi. Uma das peças musicais mais sagradas a cujos compassos se executavam "movimentos", estava dedicada aos Sayeds ou descendentes de Maomé. Para tanto, Gurdjieff não se limitava à palavra escrita, nem às danças sagradas mas também à música (mais tarde, transformadas em composições com a ajuda do seu discípulo De Hartmann. O próprio Gurdjieff auto-denominava-se de "instrutor de dança".

A sua afirmação básica e mais conhecida é de que o ser humano vive uma vida semi desperta, que chama, de forma equivocada, de vida consciente. Segundo Gurdjieff não existe uma actuação do ser humano na realidade, apenas uma cadeia infinita de reacções automáticas desencadeadas pelo próprio meio ambiente. Ele usa o termo máquina para descrever o estado do ser humano, e diz que as suas partes física, emocional e intelectual estão todas desconectadas umas das outras e isentas de qualquer tipo de comando superior, chamado por ele de um eu consciente. Ao homem seria possível desenvolver plenamente uma consciência absoluta ou consciência objectiva, mas apenas através de esforços dirigidos.

A Arte da Dança Sagrada de Gurdjieff


Gurdjieff e o Quarto Caminho
"No ritmo de certas danças, nos precisos movimentos e combinações dos bailarinos, certas leis são actualizadas. A estas danças chamou-se-lhes sagradas. Durante as minhas frequentes viagens pelo Oriente, vi danças deste tipo executadas durante a realização de ritos sagrados em antigos templos".


G. I. Gurdjieff nasceu em 1866 em Alexandropol, uma cidade na Rússia, na fronteira com a Turquia. A sua infância e juventude foram marcadas por contactos com diversas formas de conhecimento e espiritualidade. A sua cidade natal era berço de uma mistura bastante rica de tradições e isso permitiu a Gurdjieff experiências muito peculiares. Nos primeiros anos da sua vida adulta, ele fez parte de um grupo que se auto denominava de Buscadores da Verdade, e junto com eles, viajou por muitas cidades do Oriente, aprendendo vários idiomas orientais e lendo tudo o que lhe caia nas mãos.

Protagonista de uma vida impressionante, Gurdjieff sobreviveu a duas Guerras Mundiais e à Revolução Russa. Juntou um grupo de discípulos e instalou-se em Tbilisi (Georgia) fundando ali a sua primeira sede do Instituto para o Desenvolvimento Harmónico do Homem, em 1919. Na época começaram os primeiros estudos para o seu Bale dos Magos, que imortalizou uma de suas técnicas conhecida como Movimentos Gurdjieffianos.

A sua primeira apresentação do Bale dos Magos causou uma impressão muito profunda. As pessoas que assistiram ficaram muito espantadas com a excentricidade do Bale e com a profunda alteração que as danças causavam na emocionalidade e no estado de consciência.
O corpo de conhecimento de Gurdjieff, chamado de Quarto Caminho, constitui-se uma das tentativas mais importantes, que surgiu ao longo da humanidade, de promover um crescimento genuíno do ser humano. Por ser extremamente directo, prático e objectivo, ele oferece pouco espaço seja para a condescendência com o estado de adormecimento ou ilusões acerca de um falso crescimento.

A Sacralidade da Dança Oriental I


A dança como expressão e contacto com o Sagrado esteve presente também entre os primeiros judeus e há alguns relatos bíblicos sobre essa arte esotérica: “Quando Moisés, liderando o povo eleito, sai do Egipto e atravessa o Mar Vermelho, ele e sua irmã Miriam dançam para agradecer ao Senhor Jeová”. Vemos também o rei David cantando e dançando quando a Arca da Aliança chega a Jerusalém. Em obras apócrifas vemos outras expressões da Dança Sagrada Circular, como no Livro Apócrifo de João, muito comum ainda pelos cristãos ortodoxos sírios e iraquianos, onde se lê que Jesus ordenava a seus 12 Apóstolos que se posicionassem em círculo, ao seu redor e de mãos dadas, e depois começassem a dançar e a rodopiar (à moda dos dervixes), enquanto Ele, Jesus, entoava doces cânticos em louvor ao Altíssimo.


Existem muitas outras histórias mitológicas a respeito da dança... Réa salvou seu filho Zeus de ser morto por Cronos – o pai da criança – sapateando para abafar o choro da criança. Na ilha de Creta era possível materializar a Deusa Mãe fazendo-se uma dança circular que levava ao Êxtase. Ainda na Grécia antiga, a viagem de Teseu pelo labirinto do Minotauro era celebrada com uma dança em que os jovens (rapazes e raparigas) ficavam em fila, de mãos dadas, e imitavam os movimentos de Teseu pelo labirinto da mente por meio da meditação.

As touradas e os jogos de bola são formas degeneradas de antigas danças ritualistas: o culto ao Pai-Mãe internos e à criação do Universo.

Todo o benefício de dançar é resumido no calor do corpo e na sublimação da energia sexual. Esta é sublimada não apenas com exercícios respiratórios, mas também com exercícios físicos moderados e o desenvolvimento do sentido estético. Tudo isso existe em muitos tipos de danças que, mesmo afastadas das suas origens primordiais, chegaram aos nossos dias, como é o caso da dança do ventre, flamenga, dança clássica, ballet, e danças regionais, como as escocesas e irlandesas (influenciadas pelos sábios templários fugidos das perseguições católicas).

Esse carácter sexual da dança é óbvio também nos cultos dionisíacos... Usando grinaldas de folhas de rinha e cobertas por peles de bode, as mulheres dançavam freneticamente até chegarem ao Êxtase. Durante o cortejo (isso na sua fase decadente, é óbvio), comiam carne crua e dilaceravam animais vivos para incorporarem a força divina. O clímax era o sacrifício de um bode. Quando esse ritual ainda não estava degenerado, tais animais eram a representação simbólica da eliminação dos nossos defeitos animalescos; comia-se então a carne, ou seja, a consciência era liberada a partir do fogo sexual, e o bode sacrificado era a supressão do desejo animal através da não ejaculação do sémen, método pelo qual o fogo se transforma em luz e o alquimista transforma o "enxofre arsenicado" em fogo puro.

A Sacralidade da Dança Oriental


Os movimentos dançantes fazem parte da rotina das mais variadas espécies de animais quando se aproxima a época do acasalamento. Talvez por isso, a dança seja, eminentemente, sexual.

As actividades humanas estão imbuídas da troca de energia sexual. Historicamente é dito que nos ritos de fertilidade surgiram as primeiras manifestações da dança. Isso está claramente ligado às práticas tântricas realizadas nos antigos Templos de Mistérios.

Essas manifestações primordiais da Arte dos Movimentos Sagrados tinham como tema os grandes tesouros da sabedoria oculta: o dilúvio que afundou o continente atlante (presente em quase todos os mitos sobre a Criação e Manutenção do mundo); o trabalho como forma de punição aos homens, que depois da queda da Lemúria foi condenado a ganhar o próprio sustento; vida, morte e ressurreição; a descida ao inferno para salvar o irmão, o amante ou o filho... Tudo isso eram os temas das danças sagradas dos primeiros arianos.

A Dança do Ventre é uma dessas antigas danças, ou o que sobrou delas... Há uma identidade comum nas danças de alguns povos da África e Ásia; a forma de Dança Oriental que surge actualmente está desprovida da sua profundidade sagrada, estando mais associada aos movimentos sexuais e às dores do parto.

Nessas antigas formas de dança estavam também presentes as Máscaras, usadas como forma de protecção e roupagem cerimonial nas invocações teúrgicas.

No Egipto iniciático, a Dança tinha carácter sagrado. A sua invenção era atribuída a Bes (conhecido nos rituais gnósticos como Bes-Na), um poderoso Deva da Natureza que usava pele de leopardo e protegia contra a feitiçaria, além de facilitar o parto. A patrona da dança era Hathor, a Vaca Sagrada, símbolo da Mãe Divina.

Os Mistérios de Osíris, o Cristo egípcio, eram cantados e dançados no Templo. Os personagens usavam máscaras e executavam gestos estipulados, sempre acompanhados por cantos e danças.

25 novembro 2006

Barathanatyam – A mais antiga das Danças Clássicas da Índia

O seu nome significa "Dança da Índia". Tem origem no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia.

Segundo a lenda, o deus Shiva ensinou ao "Bharat Muni" uma dança com muitos movimentos Tandavam (movimentos enérgicos, fortes e masculinos). Quando Parvathi, mulher de Shiva o viu a dançar, ficou aterrorizada com a quantidade destes movimentos e resolveu ensinar um pouco de movimentos Lassyam (delicados e femininos). A dança ensinada pelo casal Shiva e Parvathi torna-se então suave em alguns momentos e enérgica noutros: nasce a Bharathanatyam.

O estilo foi mantido ao longo dos séculos pela tradição das Devadasis, as dançarinas dos templos. Existem duas formas características específicas para as danças: a dança pura (nritta), que é uma combinação de passos que são entrelaçados e executados no ritmo da música, e a dança expressiva (nritya), preces ou histórias contadas através dos gestos das mãos (mudras), e expressões faciais (navarassam).

Nataraja – A Dança de Shiva II

A mão esquerda à frente traz a Gajahasta Mudra que descreve, na dança indiana, a tromba do elefante, aquele que remove os obstáculos. A tromba tem a simbologia do discernimento: o elefante sabe exactamente discernir a força que deve usar quando arranca uma árvore ou quando apanha uma palha no chão. No caminho do autoconhecimento é necessário o discernimento para que possamos separar o que é real (absoluto, eterno, verdadeiro) e o que é irreal (relativo, passageiro, mutante). Este gesto apresenta o caminho da salvação apontando para o pé levantado, representando o equilíbrio e o impulso de ascensão, e transmitindo ao homem que ele também deve levantar-se a si mesmo na busca da sua Verdade Interior: "O ser humano deve negar as suas más inclinações, as más paixões, os instintos bestiais, oriundos da sua natureza animal inferior e seguir sua natureza superior e espiritual: Os humanos devem abster-se do ódio, dos vícios, dos excessos e buscar atingir o autocontrole”.

Nataraja pisa com seu pé direito as costas de um anão – um homem com corpo de criança e rosto de adulto – o Apasmara Purusha, simbolizando o ego infantil, a imaturidade emocional, a irresponsabilidade, a natureza inferior e animal do homem, o eu inferior do ego humano. Ele é o demónio da ignorância interior, a ignorância que nos impede de perceber nosso verdadeiro eu, e este gesto simboliza a vitória sobre as forças demoníacas da destruição. O pedestal da estátua é uma flor de lótus, símbolo do mundo manifestado. A mensagem desta imagem é: "Vai além do mundo das aparências, vence a ignorância interior e torna-te Shiva, o meditador, aquele que vê a verdade através do olho que tudo vê (terceiro olho, Ájña Chakra)."

Nataraja – A Dança de Shiva I



A Dança de Shiva apresenta simbolicamente 108 Mudras (gestos místicos) realizados com o próprio corpo, e com as mãos, dos quais o movimento de dança mais conhecido é o Tandava. A imagem possui quatro braços, com os quais realiza a criação e a destruição cíclica do mundo.

Na mão direita, ao alto, ele segura o Damaru, o tambor em forma de ampulheta com o qual marca o ritmo cósmico e o fluir do tempo, e que simboliza o princípio do som, da palavra – do som vem toda a linguagem, a música e o conhecimento. O tambor simboliza também o éter ou espaço, que propaga o som e também o primeiro elemento que surgiu. O seu rufar significa: "Todo o universo segue um ritmo e a uma ordem cíclica. O tambor representa o som da criação.”

Na mão esquerda, ao alto, formando a Ardhacandra Mudra (mudra da meia lua), uma chama – símbolo da transformação e da destruição de tudo que é ilusório. "É chegada a hora da destruição, completando assim o ciclo da criação”. “No passado, o mundo acabou-se pelas águas de um dilúvio, agora a destruição virá pelo poder do fogo". As línguas de fogo ao redor do círculo significam: "As bordas da Terra serão queimadas pelo fogo".

Com as outras mãos, ele desenha outras duas Mudras. A direita, cuja palma está à frente, representa um gesto de afastamento do medo, de protecção e bênção – Abhaya Mudra. Ele diz-nos: "Não temam a mensagem da transformação que vos trago, pois eu represento a solução dos problemas”.

Nataraja – A Dança de Shiva

O Shiva Nataraja é uma das mais poderosas representações do Deus. Neste aspecto, Shiva aparece como o Rei (raja) dos Dançarinos (nata).

Na reclusão de sua morada, no alto do Monte Kailasa nos Himalaias, Shiva dança. A Dança tem por tema a actividade cósmica, a eterna transformação. Ao executar este ritual ele revolve toda a neve sob seus pés, e à sua volta, transformando o Universo com os seus passos. Assim enquanto dança, a neve remexida pelo movimento derrete-se e começa a formar um pequeno fio de água, que desce as montanhas formando pequenos veios, que mais abaixo se transformam numa volumosa fonte de vida que é o Rio Ganga.

Ele dança no interior de um círculo de fogo – símbolo da renovação – e, através da sua dança, Nataraja cria (sarga), conserva e destrói (pralaya) o Universo, simbolizando o ritmo diário de nascimento e morte, tanto no micro como no macrocosmos, tanto no homem como em tudo que o cerca, tornando Shiva o tecelão do Espaço e do Tempo.A Dança representa o eterno ciclo do Universo que foi impulsionado pelo ritmo do tambor e da dança. Apesar dos seus movimentos serem dinâmicos, como mostram os seus cabelos esvoaçantes, Shiva Nataraja permanece com os seus olhos fixos, olhando internamente, em atitude meditativa – a sua expressão facial é de serenidade. Podemos observar em Nataraja a combinação do asceta (o yogui – Shiva é o mestre do Yoga e das ciências espirituais) com o dançarino (o artista – Shiva é também o mestre das artes, especialmente a dança e a música). Ambos são considerados idênticos nas suas performances, pela completa entrega a Deus. Ele não se envolve com a dança do Universo pois sabe que ela não é permanente. Ele fixa-se na sua própria natureza, no seu ser interior, que é perene.

24 novembro 2006

O Tao da Física de Fritjof Capra

As ideias de ritmo e de dança vem-nos naturalmente há memória quando procuramos imaginar o fluxo de energia que percorre os padrões que constituem o mundo das partículas. A física moderna mostrou-nos que o movimento e o ritmo são propriedades essenciais da matéria e que toda matéria, quer aqui na terra, quer no espaço sideral, está envolvida numa contínua dança cósmica. Os místicos orientais têm uma visão dinâmica do universo, semelhante a da física moderna; consequentemente, não é de surpreender que também eles tenham usado a imagem da dança para comunicar a intuição que tinham da natureza.

...Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de Verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo da respiração. Nesse momento, de súbito, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este afigurava-se-me como se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia, as rochas, a água e o ar a meu redor eram feitos de moléculas e átomos em vibração, e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que interagiam entre si por meio da criação e da destruição de outras partículas. Sabia do mesmo modo que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por chuvas de "raios cósmicos", partículas de alta energia que sofriam múltiplas colisões à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era familiar na razão da minha pesquisa em física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas por intermédio de gráficos, diagramas e teorias matemáticas.

Sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, "vi" cascatas de energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas em que, com pulsações rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. "Vi" os átomos dos elementos bem como aqueles pertencentes ao meu próprio corpo participarem dessa dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e "ouvi" o seu som. Nesse momento compreendi que se tratava da Dança de Shiva, o deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.